Os nossos governantes têm uma atração irresistível para cortar a fita de inauguração das obras sociais. Poucos se dedicam a documentar objetivamente o seu resultado. Por isso, li com enorme alegria a avaliação rigorosa de um projeto social da iniciativa privada que vem retirando crianças e jovens de situações de alto risco. Explico.
Com base em uma metodologia robusta, criada pelo Insper, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) examinou o impacto do Instituto Baccarelli que, desde 1996, atua na área da educação musical na Favela de Heliópolis, onde vivem 250 mil pessoas. Pasmem. Para cada R$ 1 investido, o Instituto Baccarelli gerou R$ 3,5 (!) em termos de educação e qualidade de vida para os seus 1.300 alunos, suas famílias e comunidade em geral.
Além desta impactante taxa de retorno, o estudo ressaltou avanços comprovadamente salutares no desenvolvimento socioemocional dos alunos, assim como na sua criatividade, disciplina, autoestima, respeito ao próximo e outras qualidades que são essenciais para o trabalho nos dias atuais em qualquer setor ou profissão.
No topo das atividades do Instituto Baccarelli está a Orquestra Sinfônica Heliópolis, que tem os maestros Zubin Mehta como patrono e Isaac Karabtchevsky como diretor musical. Este grupo tem apresentado regularmente a sua alta qualidade artística nos melhores palcos do Brasil e do mundo. Para tanto, os jovens passam por vários anos de ensino musical e atividades sociais, o que os torna aptos para trabalhar com êxito em várias profissões, além de executantes, por se valerem da disciplina que adquirem ao aprender música.
Está aí um caso de sucesso da iniciativa privada. Tudo começou em 1996 com a imensa dedicação do seu criador, o saudoso maestro Sílvio Baccarelli. A obra foi expandida com a ajuda do empresário Antônio Ermírio de Moraes, até 2014, quando faleceu, e continua crescendo sob a batuta do maestro Edilson Ventureli que, junto de dedicados professores, vem atendendo os alunos com o amor que dedicam aos seus próprios filhos. Isso faz toda a diferença e prova que a educação salva.
Que bom seria se nossas autoridades dedicassem uma fração do tempo das inaugurações para avaliar, corrigir erros e buscar acertos nas centenas de obras que consomem os preciosos recursos dos contribuintes.
José Pastore
Professor da FEAUSP, Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho e membro da Academia Paulista de Letras
Fonte: O Estado de São Paulo