SincoElétrico

Por Abram Szajman*

O governo recém-empossado tem, diante de si, um cenário desafiador, uma vez que os problemas do Brasil, já tão complexos, foram agravados pela pandemia, que ceifou a vida de quase 700 mil pessoas. Além do impacto no orçamento público e de um déficit educacional difícil de dimensionar e (mais ainda) de superar, há pela frente amplas tarefas de enfrentamento da inflação, do desemprego e da miséria e de reorganização dos sistemas de saúde, proteção social, transporte e habitação, além da necessidade de melhora nos índices de produtividade e da redução da burocracia.

No horizonte global, pairam catástrofes ambientais e disputas geopolíticas. Mudanças nos fluxos de produção e comércio estão ocorrendo, e o País precisa se aparelhar para não ser atropelado por estas transformações. Está claro que o equilíbrio internacional não foi rompido porque os países estão respeitando suas dependências econômicas e procurando se ajustarem ao quadro sem precedentes que se instalou – afinal de contas, o descuido com a economia pode trazer consequências imprevisíveis. A história nos prova que o comércio de bens e serviços é um elemento pacificador.

  • O momento clama para que os setores da sociedade somem esforços num programa de reformas que possa acabar com o “manicômio tributário” que convivemos – isso para citar apenas um dos entraves que dificultam a vida do brasileiro. Não há tempo a perder, somente a busca de convergências em torno de um projeto que contemple a redução gradativa dos nossos problemas permitirá resolver o dilema de compatibilizar as responsabilidades social e fiscal.

A concentração das vontades em torno de um projeto que avance na solução de nossos problemas econômicos e sociais deve ser elemento norteador das decisões das lideranças da Nação, públicas e privadas. Como empresários, classe que represento, aguardamos diretrizes nos rumos da economia para tomarmos as decisões da porta da empresa para dentro. A instabilidade deve ser superada por uma agenda discutida e pactuada de interesse comuns, pois o que está em jogo é a recuperação estrutural. Se não assumir compromissos programáticos, o Estado germinará a própria desagregação.

No momento em que o mundo parece ingressar numa desaceleração da atividade econômica, com guerra prolongada na Europa e recrudescimento da covid-19 na China, o Brasil deve cuidar de suas inconsistências para dar a volta por cima, com atenção à “economia verde e digital”. A crise de alguns pode ser oportunidade para outros.

Maior detentor de biodiversidade no mundo, o País goza de credibilidade para se inserir no processo de descarbonização. Mesmo com tantos atributos ambientais, ainda lidamos com a falta de políticas de incentivo, o que reflete, de certo modo, a parca conscientização da sociedade acerca das mudanças climáticas.

Precisamos de vontade política e coesão social para não perder, mais uma vez, o bonde da história. No fim do dia, o que interessa ao cidadão são serviços públicos mais eficientes e melhores condições para viver e produzir riqueza na medida de nossas carências e potencialidades.

*Abram Szajman é presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo em 05 de fevereiro de 2023.