Há cerca de dez meses os usuários da Cracolândia, na região central de São Paulo, se espalharam por várias ruas dos bairros locais depois de uma ação policial organizada pela prefeitura e o governo estadual que esvaziou a praça Princesa Isabel, próxima à estação Júlio Prestes, onde costumavam ficar.
Desde então, os usuários estão em vias como a rua Guaianases, onde ficava situada a loja de motos de Marco Silva, há cerca de trinta anos. À CNN ele contou que teve que fechar as portas do seu comércio e mudar o endereço da loja.
Marco relata que os usuários ocupam as ruas durante todo o dia e por muitas vezes fazem suas necessidades fisiológicas na porta do comércio. Com isso, a região começou a ficar perigosa, com alto número de roubos. A soma de todos esses fatores acabou expulsando os clientes, “não tinha uma alma viva”, disse.
Para além do comércio, ele afirma que a situação influenciou também a vida dos moradores do local, que acabaram deixando a região. “Existem prédios inteiros vazios”, conta. Marco revela que conhece mais de dez comerciantes que tiveram que deixar o local por conta da situação com os usuários.
O relato dele em muito se assimila ao de Julio Cesar, dono de uma oficina especializada em motos Harley-Davidson, que também saiu da localidade. “A Cracolândia me quebrou”, explicou. Hoje, sua loja fica situada no bairro do Ipiranga, na zona sul da capital.
A oficina de Júlio ficava na rua dos Gusmões, próximo da estação da Luz, também há 30 anos. Ele se mudou para a avenida Doutor Ricardo Jafet. “A situação começou a ficar insustentável lá no centro”, cita.
A CNN entrou em contato com a Imobiliária Mark IN, que administra três condomínios na região da Cracolândia. A empresa confirmou que há cerca de um ano a procura por imóveis residenciais diminuiu na região.
Outros quatro comerciantes relataram a mesma condição. A situação ficou insustentável, os clientes não apareciam e tiveram que fechar as suas portas. Alguns mudaram de endereço, outros fecharam definitivamente. Como é o caso de um dos restaurantes mais antigos da região, o Láfarina, que está fechando suas portas.
Em contato com a CNN, o Governo de São Paulo explicou que vem implantando uma nova dinâmica de acolhimento, acompanhamento e atendimento dos dependentes químicos da região central da capital.
“Desde o começo do ano, as polícias Civil e Militar desenvolvem ações na região para combater o tráfico de drogas e crimes em geral. O monitoramento do local é constante para identificar e mapear os pontos do ‘fluxo’ e principalmente os integrantes.”
Além disso, a gestão pontua que as adaptações do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) começaram, com previsão de entrega para o começo de abril.
A Subprefeitura da Sé foi procurada pela reportagem, mas ainda não respondeu aos questionamentos.
Fonte: CNN
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