Enquanto o setor varejista no Brasil enfrentou desafios em agosto, com uma ligeira retração após dois meses de crescimento contínuo, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mantém uma visão otimista para o restante de 2023, projetando um crescimento de 2%. Após registrar um avanço de 0,7% em julho, o varejo teve um declínio de 0,2% nas vendas em agosto, de acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgados hoje (18 de outubro) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, é importante destacar que o varejo brasileiro continua a demonstrar um desempenho positivo no acumulado do ano, com um aumento de 1,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse crescimento é impulsionado por setores que oferecem produtos essenciais, como hiper e supermercados, que tiveram alta de 3%; farmácias e drogarias, cujo aumento foi de 3,5%; e combustíveis e lubrificantes, para os quais o aumento foi ainda maior, de 9,2%. Conforme o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a estabilidade desses segmentos ao longo de 2023 pode ser atribuída à moderação dos preços (que subiram menos que a inflação) e à menor dependência das condições de crédito.
“A flexibilização da política monetária e a redução das taxas de crédito requerem tempo para gerar impactos significativos no setor”, afirma Tadros. Segundo o presidente da CNC, o varejo brasileiro permanece sob a influência de múltiplos fatores. “O cenário mostra a necessidade de uma abordagem cautelosa e estratégica para impulsionar o setor ao longo do restante do ano”, aponta.
Comércio de eletros enfrenta quedas
De acordo com o economista da CNC responsável pelo estudo, Fabio Bentes, a política monetária do Brasil ainda desempenha um papel significativo, particularmente, em segmentos mais dependentes de crédito. Segmentos que dependem mais do parcelamento, como o comércio de artigos de uso pessoal e doméstico (predominantemente de eletrônicos), de móveis e eletrodomésticos, apresentaram variações negativas de 4,8% e 2,2%, respectivamente.
A estabilização dos preços em um patamar mais baixo do que em 2022 e a queda do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 8,73% para 4,61% em 12 meses, evidenciam o impacto das políticas monetárias. “Setores mais sensíveis ao crédito registraram variações negativas ou abaixo da média do varejo, refletindo o desafio de estimular as vendas em um cenário de endividamento das famílias”, explica Bentes. Desde outubro de 2021, aproximadamente 30% da renda média dos consumidores tem sido destinada ao pagamento de dívidas e serviços relacionados.